Sei lá porque ele
entrou nessa, mas ele entrou. Não sei se ele era triste, ou solitário, ou
desiludido da vida.
Ele me pediu um
trocado e ao sentir seu cheiro de pinga pensei: nunca vou dar dinheiro para ele
se embebedar. Uns passos adiante fiquei pensando: mas e se essa é a única forma de curar sua dor? Não, não
deveria contribuir com esse “remédio”, mas
poderia eu contribuir de outra forma? Poderia contribuir de alguma maneira para
tirar sua dor? Sua tristeza? Sua solidão?
Sei lá o que ele
sente. Não sei quantas lágrimas derrama, nem se tem mais lágrimas a derramar. Quando as minhas
próprias me caem dos olhos a única coisa que eu quero é algo que diminua as
dores que as causam. E
porque eu não poderia fornecer esse algo para ele? E se ele perdeu família, seu grande amor, seu lar e tudo
que tinha na vida e bebendo é a única coisa que o faz esquecer?
É fato que outras
coisas já perdeu há tempos: sua
dignidade, a esperança, o afeto, sua honra. Não, não poderia julgá-lo. Porque
não posso sentir a dor que ele sente. Nunca minhas dores serão iguais as dele.
Nunca uma dor é igual para ninguém, por isso não podemos avaliar o antídoto que
cada um encontra para curar as suas.
Quem sabe um dia
ele encontre alguém que mude seu antídoto e faça suas lágrimas serem apenas de
emoção ao se lembrar que algum dia, alguém se preocupou com sua dor e a curou
para sempre.
Eu poderia, mesmo
que sendo errado, curar momentaneamente sua dor, mas não o fiz. Não
voltei para lhe dar um trocado. Eu
o deixei ali, com
ela.
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