Ele, que só conseguia pensar em várias delas,
estava pensando apenas nela.
Há dias ele só pensava nela. Não entendia como e não aceitava muito bem, então
desviava o pensamento.
Pensava nas outras, mas, acabava comparando- as com
ela.
Que a achava linda demais, isso sempre soube, desde
o dia que a viu pela primeira vez. Sua presença apagou a presença de todas as
demais do local quando ela apareceu. Ele ficou hipnotizado e a seguiu a noite
toda, até que conseguiu a brecha de falar com ela.
A partir daí foram anos de relação descomprometida com
ela, e com várias outras.
Ela sabia que a relação com ele não passaria disso, então, quando lhe era conveniente o encontrava.
E ambos estavam confortáveis.
Ela até se apaixonara por ele certa vez, num
momento de fraqueza, mas ele deixou bem claro que ela nunca teria importância
maior que todas as outras tinham.
E assim foi; até o dia que ele se pegou pensando demais nela.
Lembrava do seu cheiro, dos seus cabelos longos e
tão fortes quanto sua personalidade.
Pensava em como ela ficava linda brava e por isso
ele adorava provocá-la. Pensava no corpo esculpido naturalmente que ela
tinha e que sempre tentava adivinhar qual segredo milagroso ela tinha para ter
aquela pele de veludo.
Passou a lembrar dela em certas músicas ou sempre
que via seu chocolate preferido.
Lembrava-se dela afagando qualquer cachorro de rua
e na sua irritante mania de reciclar o lixo sempre. Lembrava-se dela até quando ia dormir. Não como se
lembrava das outras com quem só queria se divertir. Lembrava-se das conversas
que tinham madrugada adentro e de como ela conseguia fazê-lo enxergar as coisas sob outro ponto de vista.
Odiava quando ela cismava com alguém dizendo que tinha um comportamento duvidoso, mas que sempre tinha
razão de desconfiar no final das contas.
Então ele percebeu que no fundo gostava até do que
não gostava nela.
Começou a sentir saudades demais para um cara como ele. Começou a vê-la em todas que conhecia e a não ver
mais graça nas que não eram como ela.
Percebeu na verdade, que nenhuma era como ela e
parou de pensar nas outras e de querer outras. Mas ele não aceitava, então
continuava se enganando e tentando dominar sua própria mente.
Mas seu coração começou cobrar suas batidas. Este
já não queria mais bater em vão e começou a bater por ela. Cada vez mais
forte, mais incontrolavelmente.
Ele já começava a não resistir a seus próprios pensamentos e começou a virar um súdito de seu próprio coração.
Passou um tempo digladiando com seu orgulho e medo,
mas estava decidido a ir atrás dela.
Como um garoto assustado, foi.
Agora estava ele, na porta de sua casa ensaiando o
que iria lhe dizer. Não sabia como ela iria reagir. Só sabia que a partir
daquele momento estava abrindo mão de todas as
outras. Que se ela o quisesse, seria um caminho sem volta. O caminho da
felicidade.
Então deu um gole seco no orgulho e tocou a campainha.
E antes de
ela abrir a porta, pensou que se pudesse faria uma única pergunta a
todos os outros homens do mundo: e você, já foi atrás da sua felicidade
hoje?
Eu tive inspiração para esse texto andando na rua. Depois entrei no ônibus e fui até em casa escrevendo-o pelo celular. Ele veio de repente, uns dias depois de ter encontrado um amigo, o personagem desse texto.
ResponderExcluirNão, ele nunca foi atrás dela...